por Gustavo Gitti
Além dos ensaios e dicas, vou iniciar uma nova categoria aqui no “Não dois, não um”: indicações de livros. Espero, com isso, contribuir para que insights surjam em algum dos parceiros e os relacionamentos melhorem, fiquem mais vivos e lúcidos. Aliás, eu já tinha indicado um livro genial logo no início deste blog: A Entrega, de Toni Bentley.
Vamos à ficha técnica:
Autores: Patricia Love e Steven Stosny
Editora: Nova Fronteira
Nº de páginas: 288
Domingo fiquei um tempo lendo este livro com minha namorada na Livraria Cultura (aliás, se você morar em Sampa, vale a pena conferir o novo espaço!). Achei o título genial: How to Improve Your Marriage Without Talking About It: Finding Love Beyond Words (Patricia Love e Steven Stosny). E eu concordo com o mote que o sustenta: “Love is not about better communication. It’s about connection.”
Apesar de ter um excessivo discurso auto-ajuda (principalmente no final o livro se perde), eu achei algumas orientações geniais e right on the spot! O livro não é bom o suficiente para me fazer comprá-lo, mas interessante o suficiente para nos fazer pensar um pouco. Seu grande problema é simples: o título é muito bom em comparação com o conteúdo. Um título desse deveria render um livro mil vezes melhor do que o atual, não um amontoado de siglas, metáforas imbecis e métodos 1-2-3.
Mas vamos ao essencial… Na parte boa do livro, os autores resumem o problema dos relacionamentos em dois processos que afetam a relação. Chamam de vergonha a diminuição da potência masculina e listam inúmeras situações em que isso acontece, muitas delas com uma boa ajuda da parceira. Pelo lado feminino, o problema detectado resume-se em solidão/medo e eles explicam por que a causa disso é muitas vezes o próprio homem.
No limite, tal dinâmica do casal leva a uma sensação de total isolamento na mulher e de fracasso no homem. De fato, um processo alimenta o outro. A insegurança da mulher faz com que o homem sinta vergonha, enquanto que a impotência masculina aumenta a solidão feminina. Isso afasta e irrita ambos. É como se ele desejasse dizer a ela: “Você não confia em mim? Seu medo e insegurança fazem com que eu me sinta um fraco e perdido!”. E ela a ele: “Por que você não se aproxima? Sua depressão e falta de direção me fazem sentir medo, totalmente sozinha em meus sonhos, sozinha em meus mundos”.
As partes mais inovadoras do livro são: “The Worst Thing a Woman Does to a Man: Shaming” e “The Worst Thing a Man Does to a Woman: Leaving Her Alone but Married“. Todos os itens da primeira lista são exemplos de como uma mulher pode assumir a energia masculina da relação e dificultar a condução de seu homem. Os itens da segunda lista possuem também algo em comum: um espírito frágil que não consegue penetrar e conduzir as energias femininas. E não vou citar exemplos porque o mais efetivo é olhar para nossas próprias vidas e revelar os nossos próprios.
A saída recomendada divide-se em quatro focos: toque, rotina, atividades e sexo. Ou seja, nada de conversa, diálogo, emails e bla, bla, bla. Como diz uma amiga, conversa é para amigos. Entre amantes, deve haver tensão e equilíbrio, equilíbrio em cima da tensão e muita tensão embaixo do equilíbrio. Pela tensão, nos transformamos; no equilíbrio, repousamos. Ou, como diz meu mestre, a linguagem na qual o mundo opera é a da energia, não a discursivo-conceitual. Lembro também daquela pesquisa que mostra como homens que tocam nas mulheres desejadas possuem mais chances de conquista do que os que não o fazem. O biólogo Humberto Maturana concorda, ao defender que nenhuma discussão se resolve com argumentos racionais:
“Every rational system has an emotional basis and this explains why it is not possible to convince anyone with a logical argument if an a priori acceptance has not been made beforehand.”
O sentido original da palavra “conversar” vem do latim versare (“virar, dar voltas”) e cum (“junto, com”). Ou seja, conversar é virar junto, como fazemos muito no tango e no bolero. A verdadeira comunicação nunca é semântica, nunca ocorre por signos, símbolos, sons e palavras. Se comunicação é conexão, ela sempre ocorre por contato, condução, dança. Quando falamos algo a alguém, na verdade estamos conduzinho o olhar do outro, interagindo com sua corporalidade, pegando na mão do outro e levando-o para passear. É isso o que acontece quando explicamos uma filosofia, contamos uma história ou simplesmente batemos papo. Eis por que Maturana afirma que a linguagem humana é conotativa, não denotativa. Ela não nos informa ou transmite significados à mente, ela nos orienta, nos conduz por dentro de um universo particular e nos faz ver e tocar com o corpo.
Para entender como isso funciona, experimente resolver um problema com uma conversa estritamente analítica. Sentem-se distantes um do outro e comecem a listar as reclamações, fazer brainstorm de soluções, escrever metas e objetivos rumo a uma conclusão. É fascinante perceber como nenhuma argumentação lógica, ainda que sofisticada e totalmente impecável, consegue dissolver nós emocionais. Sofremos porque paramos de dançar. A solução não é parar a música, sair do salão e começar a discutir. A solução é ouvir a música e voltar a dançar.
Se no início é difícil encontrar um caminho do meio entre discussão e dança, basta tentar algo no outro extremo. No meio do caos, supere seu orgulho e sua raiva (sem isso, você sequer conseguirá sentir tesão, tamanho nosso estreitamento nesses momentos), conecte seu corpo inteiro por meio da respiração e ataque-a! Ela vai resistir, talvez querer voltar para o diálogo, mas se havia raiva, agora há energia, e se há energia basta redirecioná-la. Qualquer casal sabe bem como o makeup sex é talvez o mais delicioso dos prazeres…
Enquanto os homens se esforçam em filosofar e construir prédios, as mulheres – esses seres naturalmente mais sábios – não perdem tempo com as linguagens materiais. Elas ouvem e falam só poesia, aquele perfume inexistente que dá vida a qualquer coisa que faça algum sentido. Ele manda um email, escreve bits, letras no teclado, pensamentos em português. Mas ela não lê os bits. Seus olhos ignoram letras. Seu corpo capta cada pensamento como um som. Não me perguntem como, mas o que ela vê são os gestos de quando ele escrevia, sua mão sobre o teclado, a quantidade de força e suavidade, seus olhos fixos além do monitor, sua respiração, ritmo, os pés, o corpo na cadeira. Ela se interessa pelo movimento, pela condução, pelo cheiro daquilo. Sua comunicação é incorporada. Ela lê com o corpo e para lhe dizer algo basta se conectar e usar palavras como um adorno, assim como a poesia abusa dos poemas. E isso, o email como gesto poético, isso a seduz, isso a convida para dançar. Outro homem poderia replicar os bits e enviar o mesmo email… Nada disso seria lido, não haveria o convite.
Por fim, duas dicas que, em minha visão, também não são bem exploradas no livro:
Para ela: “Let him see you happy. Your man loves to make you happy.”
A potência masculina cresce à medida que ele se sente capaz de fazer uma mulher feliz, de oferecer, de prover. O que o deixa feliz não é tanto o poder que ele sente (ainda que muitos afirmem isso), mas a segurança que ela recebe. Portanto, uma mulher generosa exibirá sua alegria para seu homem e com isso aumentará sua potência, alimentando o ciclo que nutre sua própria felicidade.
Para ele: “Understand the compassion paradox: If it’s available whenever needed, it’s rarely needed.”
Um homem disponível – lúcido e pronto para receber todas as energias femininas – raramente terá uma avalanche de reclamações e pedidos de sua parceira. No entanto, um homem fechado (pouco disponível e autocentrado em suas próprias complicações) receberá pedidos, exigências e reclamações a todo momento! Uma mulher que se sente acolhida (lembrando que não basta você achar que ela é acolhida, ela precisa se sentir acolhida!) pode passar dias longe, feliz, sem desconfianças, andando, se desenvolvendo. Já uma mulher que se sente isolada buscará por contato e segurança a cada instante, testando você, exigindo mais, reclamando de cada detalhe.
Fonte: Portal não dois, não um. http://nao2nao1.com.br
> > Bom eu sou suspeita pra falar porque eu li e adorei este livro por ser uma leitura parcial nem pró homem e nem pró mulher. É uma leitura que vale a pena porque vem mostrar realmente quais os pontos importantes para se entender a posição dos homens e das mulheres. e os efeitos que as atitudes de cada um vão impactar na reação do outro.
O Livro está inclusive disponível em e-book
http://www.scribd.com/doc/21754920/Nao-discuta-a-relacao-Patricia-love-Steven-stosny
Vou ficando por aqui e desejo uma boa leitura! Izabel Bento