domingo, 22 de novembro de 2009

ANTES DE TUDO ACREDITE NO AMOR

Por Roberto Shinyashiki

O amor é inevitável na vida dos seres humanos, assim como é inevitável que a rosa exale seu perfume. Por isso, o primeiro passo para amar é acreditar no amor.

Sempre houve a crença de que Deus nos daria tudo o que a Ele pedíssemos. Mas isso não é verdade. Ele nos dá apenas aquilo em que acreditamos. Então, se alguém crê no amor, conseguirá o amor e, se acreditar na solidão, acabará só.

Em um mosteiro Zen, conduzido por dois irmãos, o mais velho era muito sábio, e o mais novo, ao contrário, era tolo e tinha apenas um olho. Para um forasteiro conseguir hospedagem por uma noite nesse mosteiro, tinha de vencer um dos monges em um debate sobre o Zen-Budismo.

Uma noite, um forasteiro foi pedir asilo e, como o velho monge estava cansado, mandou o mais novo confrontar-se com ele, com a recomendação de que o debate fosse em silêncio. Dessa forma, o monge tolo não cometeria enganos.

Algum tempo depois, o viajante entrou na sala do sábio monge e disse:
— Que homem sábio é o seu irmão! Conseguiu me vencer no debate e, por isso, devo ir embora.
O velho monge, intrigado, perguntou:
— O que aconteceu?
E escutou a resposta:
— Primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda, e seu irmão levantou dois simbolizando Buda e seus ensinamentos. Então, ergui três dedos para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos, e meu inteligente interlocutor sacudiu o punho cerrado, à minha frente, para indicar que todos os três vêm de uma única realização.
Pouco depois, entra o monge tolo, muito aborrecido, e é saudado pelo irmão, que lhe perguntou o motivo de sua chateação. E o caolho respondeu:

— Esse viajante é muito rude! No momento em que me viu, levantou um dedo, me insultando, indicando que tenho apenas um olho. Mas, como ele era visitante, eu não quis responder à ofensa e ergui dois dedos, parabenizando-o por ele ter dois olhos. E o miserável levantou três dedos, para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos. Então fiquei furioso e, com o puno cerrado, ameacei lhe dar um soco. E, assim, ele foi embora.

Essa simples história nos mostra que as pessoas sempre procuram nos outros e na vida a confirmação daquilo em que acreditam. Infelizmente, elas têm andado muito desesperançadas no amor, como se a satisfação fosse impossível, e acabaram criando um mundo de pouco amor.

Como poderemos viver sem amar? Impossível, porque, se assim for, o vazio sempre nos acompanhará. Lembre-se: o amor é inevitável na vida dos seres humanos, assim como é inevitável que a rosa exale seu perfume. Por isso, o primeiro passo para amar é acreditar no amor.

Não podemos desperdiçar os morangos da vida, pois o melhor momento para ser feliz é agora.

Talvez, ao me ouvir falar em felicidade, você se pergunte se eu não tenho problemas, se tudo dá sempre certo para mim, se nunca passei por uma grande dificuldade que me tenha deixado marcas, como ocorre com a maioria das pessoas.


É claro que sim, sou como todo mundo. Tenho angústias, fico estressado, as pessoas às vezes me traem, mas eu procuro comer os morangos da vida.

Um sujeito estava caindo em um barranco e se agarrou às raízes de uma árvore. Em cima do barranco, havia um urso imenso querendo devorá-lo. O urso rosnava, mostrava os dentes, babava de ansiedade pelo prato que tinha a sua frente.

Embaixo, prontas para engoli-lo quando caísse, estavam nada mais nada menos do que seis onças tremendamente famintas.

Ele erguia a cabeça, olhava para cima e via o urso rosnando. Abaixava depressa a cabeça para não perdê-la na sua boca. Quando o urso dava uma folga, ouvia o urro das onças, próximas do seu pé.

As onças embaixo querendo comê-lo, e o urso em cima querendo devorá-lo.

Em determinado momento, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango vermelho, lindo, com aquelas escamas douradas refletindo o sol. Num esforço supremo, apoiou seu corpo, sustentado apenas pela mão direita, e, com a esquerda, pegou o morango. Quando pôde olhá-lo melhor, ficou inebriado com sua beleza. Então, levou o morango à boca e se deliciou com o sabor doce e suculento. Foi um prazer supremo comer aquele morango tão gostoso.

Deu para entender?

Talvez você me pergunte: “Mas, e o urso?”

Dane-se o urso e coma o morango!

E as onças?

Azar das onças, coma o morango!

Às vezes, você está em sua casa no final de semana com seus filhos e amigos, comendo um churrasco. Percebendo seu mau humor, sua esposa lhe diz:

— Meu bem, relaxe e aproveite o domingo!

E você, chateado, responde: “Como posso curtir o domingo se amanhã vai ter um monte de ursos querendo me pegar na empresa?”

Relaxe, como está na Bíblia, e viva um dia por vez: coma o morango.

Problemas acontecem na vida de todos nós, até o último suspiro. Sempre existirão ursos querendo comer nossas cabeças e onças, arrancar nossos pés. Isso faz parte da vida e é importante que saibamos viver dentro desse cenário. Mas nós precisamos saber comer os morangos, sempre. O melhor momento para ser feliz é agora.

Roberto Shinyashiki

A Montanha do Amor



O amor quase sempre começa com uma paixão. Vem como uma tempestade em alto mar, que interrompe a calmaria de uma vida que parecia segura e tranqüila. Sem pedir licença, as ondas desse mar invadem o convés e lançam para fora do navio o tédio e a desmotivação.

Passada a tempestade, o viajante desse barco percebe que foi levado a uma ilha. É terra firme, onde poderá plantar a semente da sua vida e de suas realizações. A ilha é um cenário paradisíaco, onde tudo é perfeito. Parece que o lugar foi feito sob medida para esse navegante. Paisagens mágicas, águas cristalinas, pássaros de cores nunca vistas e cantos maravilhosos.

Então, ele começa a explorá-la e nota que nem tudo se encaixa em seu sonho tropical. As árvores dessa ilha não davam exatamente os frutos que desejava, e isso o decepciona. A água doce não é tão abundante quanto ele pensava. Todas as suas esperanças estão naquela ilha. Se ela não o alimentar, não suprir as suas necessidades, o que será de sua vida?

Essa ilha é como a pessoa amada. Em quem se deposita todos os desejos, carências e também as ilusões: “Com ela, vou fazer o que sempre quis”. “Eu nunca mais vou me sentir só”. E quando o outro não faz o que se espera, vem a desilusão.

É que a pessoa teve a esperança de que alguém fizesse o que era sua tarefa: realizar-se como ser amoroso. Centrou o poder da sua vida no parceiro. Imagina que ele vá satisfazer suas carências e dar-lhe toda a felicidade imaginada.

Certamente, você se lembra de um momento no seu relacionamento em que ambos se sentiam totalmente felizes. Cada olhar era uma viagem ao infinito, cada conversa uma lição de compreensão e tranqüilidade, cada abraço era o carinho mais eterno. Aos poucos, porém, as coisas foram mudando. Até que um certo dia você se sente só, como se tivesse sido enganado. O que aconteceu?

Pode parecer incrível, mas a verdade é que o amor é mais pleno quando as pessoas envolvidas não precisam do outro para se sentir realizadas. O amor transcorre mais serenamente entre aqueles que se sentem inteiros, desprendidos e, então, podem se entregar.

Quando você precisa do companheiro, reduz o ser amado a um simples prestador de serviços. Precisa dele, assim como de um encanador para instalar uma torneira em sua casa, pois você não sabe como fazê-lo. Não significa que você ame o encanador. Apenas necessita dele para ter água em sua cozinha. Ele faz o serviço, você paga e pronto!

No amor, quando isto acontece, o pagamento não é cobrado em dinheiro. O outro imagina que deve ser pago com o que ele próprio precisa. Se não o fizer, você assume uma dívida, cobrada depois com juros e correção monetária. Tão enganoso quanto o precisar é o querer. “Quero que ele me leve para viajar”. “Quero que ela me compreenda”. Note que o querer é sempre um plano, não uma determinação.

O pior é que, quando se investe energia em querer que o outro faça alguma coisa, automaticamente se investe energia no medo de não conseguir.

“Quero que ele me leve para viajar, mas tenho medo de que não o faça”. “Quero que ela me compreenda, mas tenho medo de que não consiga”. Quanto mais desejo, mais medo.

O problema não é só querer mudar o outro, em vez de criar uma opção que não dependa dele. O maior problema é que se instala uma tensão em você, no outro e na relação, gerada pela luta entre querer e temer. É uma mensagem confusa. Ele sente, ao mesmo tempo, o seu amor, desejo, medo e tensão. Isso tudo atrapalha a tranqüilidade de se sentir feliz por estar junto, a segurança na sua capacidade de amar e a confiança de que vocês descobrirão o que é melhor para os dois.

Essa confiança está baseada em duas virtudes: a capacidade de estar em intimidade e a de manter a autonomia.

Intimidade não é só o que acontece quando dois corpos fazem amor, mas algo infinitamente maior. É compartilhar sentimentos e pensamentos: almas nuas se encontrando sem disfarces. É saber expressar o que está acontecendo dentro de si, receber o outro e, juntos, encontrarem espaço para os dois seres.

A maior parte das pessoas teme a intimidade por considerar muito negativo o que guardam dentro de si. Elas imaginam que só têm inveja, sentimentos de inferioridade, desejos inconfessáveis. Então, se escondem. Falam dos seus atos e até de seus planos, mas não mostram seu interior, porque sabe que, quando alguém entrar, terá uma visão completa. Conhecerá o interior e entenderá o exterior.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O casal perfeito - Lya Luft




A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. Isso eu disse e escrevi - e repito - em dezenas de palestras por este país afora. Aí me pedem para escrever sobre o casal perfeito: bom para quem gosta de desafios.
O casal perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser humano, sem se sentir isolado do parceiro - ou sem se isolar dele? O casal perfeito seria o que entende, aceita, mas não se conforma, com o desgaste de qualquer convívio e qualquer união.
Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o namoro, o amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou suavizados todos os problemas - a chatice da casa dos pais, as amigas ou amigos casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinha às festas e sexo difícil e sem afeto.
Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do 'enfim nunca mais só!', porque aí é que a coisa começa a ferver. Conviver é enfrentar o pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o sempre à espreita, o incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de dois rostos.
Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito. Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar. A querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.
O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do desencanto e do cansaço, do tédio. A conta a pagar, a empregada que não veio o filho doente, a filha complicada, a mãe com Alzheimer, o pai deprimido ou simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor.
E a gente explode e quer matar e morrer, quando cai aquela última gota - pode ser uma trivialíssima gota - e nos damos conta: nada mais é como era no começo. Nada foi como eu esperava. Não sei se quero continuar assim, mas também não sei o que fazer. Como a gente não desiste fácil, porque afinal somos guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e também porque há os filhos, os compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto, é preciso inventar um jeito de recomeçar, reconstruir.

Na verdade devia-se reconstruir todos os dias. Usar da criatividade numa relação. O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, a maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, não o meio. Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas que ouvi: 'Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi de novo como minha mulher'.
Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. Ao menos de vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha vida? Quero continuar vivendo assim? Se não quero, o que posso fazer para melhorar? Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais complicado, como realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, de mudar de profissão.
Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria, realização e sobre tudo abertura com o outro. Velhos casais solitários ou jovens casais solitários dentro de casa são terrivelmente tristes e terrivelmente comuns.
É difícil? É difícil. É duro? É duro. Cada dia, levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, dizia Hélio Pellegrino. Viver é um heroísmo, viver bem um amor mais ainda. O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do sonho de que, apesar dos pesares, a gente, a cada dia, se escolheria novamente, e amém.